Aventuras

De Petrópolis ao deserto, de bicicletas

“Costa a Costa Pelo Deserto do Atacama” - este é o nome da expedição que vai percorrer mais de 3 mil quilômetros de um trajeto que liga o Oceano Pacífico ao Atlântico, passando por três países da América do Sul: Chile, Argentina e Brasil. No roteiro estão previstas as passagens pelo deserto do Atacama, o mais árido do mundo, e as Cordilheiras dos Andes. E tudo isso, acredite, de bicicleta. A expedição será realizada pelos petropolitanos Luis Fernando Branco e Geovane Rento, que pretendem percorrer todo o circuito em um mês.
A aventura está marcada para julho e terá início em Tocopilla, no Chile, com chegada em Matinhos, no estado brasileiro do Paraná. Os aventureiros pretendem percorrer 3.226 quilômetros sobre suas bicicletas. O ponto alto da expedição é o deserto do Atacama. A dupla irá ganhar os aproximados 500 quilômetros de extensão de ambiente árido sob temperatura média de 40º durante o dia até chegar à Cordilheira dos Andes, onde deverá enfrentar os mesmos 40º, só que desta vez negativos. Nas Cordilheiras, eles podem atingir uma altitude de até 4.700 metros.
Os cicloturistas (ciclistas de turismo), possuem no currículo outros feitos de tirar o fôlego. Em 1996, Luis Fernando, de 46 anos, que é empresário, esteve em Machu Pichu, no Peru, e atravessou o deserto do Atacama com sua caminhonete Rural ano 71. Com a Rural, Luis Fernando também visitou o Aconcágua, em 2005, e percorreu a Bolívia, Chile e Argentina em 2008. Em 2004, ele viajou no famoso Trem da Morte, saindo da Bolívia até Machu Pichu, no Peru, novamente.
Já Geovane, de 36 anos, que é aventureiro de profissão (ele é condutor credenciado do Parque Nacional da Serra dos órgãos e monta circuitos de traking para uma empresa no Rio), foi este ano de Petrópolis a Ibitipoca (MG) de bicicleta. Em 2003, participou do Desafio Praias e Trilhas de Florianópolis, em uma corrida de 84 quilômetros, e esteve no Aconcágua junto com Luis Fernando em 2005, entre outras aventuras. Juntos, Luis Fernando e Geovane fizeram em 100 dias, desta vez de bike, uma nova visita ao Aconcágua na Expedição Petrópolis-Mendoza-Petrópolis, quando percorreram 8.600 quilômetros em 2002/2003.

Preparação inclui musculação e pedaladas
A preparação física para a expedição “Costa a Costa Pelo Deserto do Atacama” conta com sessões de musculação e, claro, muitas pedaladas. Mas também é preciso estar preparado psicologicamente para a aventura, afirmou Geovane. Isto porque eles encontrarão pelo caminho situações adversas, como o frio e o calor intensos, restrição na alimentação (os ciclistas levarão comida liofilizada, ou desidratada), desconforto para dormir, o cansaço, entre outras barreiras. Mas nada que os faça desanimar, garantem.
O sentimento de liberdade e o contato com a natureza é o estímulo dos aventureiros, afirmou Luis Fernando. A solidariedade das pessoas por onde passam também é reconfortante, acrescentou Geovane. “Neste tipo de aventura, as pessoas por onde passamos se mostram solidárias e querem ajudar, seja com comida e até com dinheiro”, contou.
Em 2002, quando participaram da expedição de bicicleta de ida e volta à Mendoza (Argentina), Geovane disse ter descoberto quanto importante é um posto de combustível. “Passamos por locais muito planos e as retas pareciam não ter fim. Eu, que não tenho carro e nem dirijo, ficava feliz quando via um posto”, brincou. Para realizar a aventura, a dupla está buscando patrocínio, já que precisa levantar cerca de R$ 8 mil para a compra de alimentos, passagens para chegar ao Chile, ponto de partida da expedição, possíveis hospedagens e principalmente para a compra de peças de reposição para as bicicletas, que sofrem desgaste com a alta quilometragem. Até agora, os cicloturistas já tem o apoio das empresas Trilha Carioca, Citera, MC Performance, Avancini Bikes, Nômade Trilhas e Potosi Adventure. Geovane e Luis Fernando estão vendendo camisetas da expedição. Quem quiser adquirir a camiseta ou colocar sua marca nesta aventura pode entrar em contato com eles através do telefone (24) 4104-0806 ou pelos e-mails geovanerento@ig.com.br e nandorocha2002@yahoo.com.br.


JUSSARA MADEIRA
Redação Tribuna
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Relembrando a velha aventura
Em 2002/2003 estávamos na estrada, de Petrópolis (RJ) ao Aconcágua (Argentina) e a volta a Petrópolis pedalando. Foram 100 dias e mais de 8.000km contando com a sorte em estradas com muito trânsito e muitas vezes sem acostamento.








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Relato de pedal Petrópolis - Ibitipoca


Dizem que quando se juntam a fome com a vontade de comer, não tem quem segure. Foi assim que surgiu a ideia para uma viagem de bike de Petrópolis no Rio de Janeiro, até o Parque Estadual do Ibitipoca em Minas Gerais. Três pessoas loucas por aventuras e conhecer novos lugares e um orçamento baixíssimo, lá fomos nós, Cinthia, Ingrid e Geovane.

O start foi dado quando Ingrid nos escreve dizendo que estaria de passagem pelo Rio e ainda teria uns dias livres para pedalarmos por aqui.

c -Quantos dias você tem? Três, quatro, uma semana?

-Que tal Ibitipoca? Tou louca pra fazer!

c -Opa! Então vamos! Uma semana dá pra fazer!

Isso faltavam 2 dias e meio para ela chegar a Petrópolis. Será que dá tempo de preparar tudo?

Equipamentos, suprimentos... será que vamos aguentar a viagem? Afinal o único dos três que pedalava religiosamente era o Geovane. Nossa maior preocupação era se conseguiríamos ficar tanto tempo sobre o selim. A carga era pequena: em cada par de alforges, colocamos apenas uma muda de roupas para pedalar e duas ou três peças para andar pela cidade e no parque. Venhamos e convenhamos, caminhar com bermuda ciclista é super desconfortável. Mais alguns saquinhos plásticos com frutas secas, comida de preparo rápido, biscoitos e carboidrato gel, tudo muito compacto.
Atenção especial às ferramentas, peças para reposição e kit primeiros socorros. Tivemos que nos apressar para comprar o que faltava: bagageiros para apoiar os alforges, lanternas e pilhas, mais um ciclo computador. Muita correria para arrumar tudo e ainda faltou alguma coisa. Não deu tempo nem de instalar o ciclo, mas ao menos os itens de segurança já estavam todos ok.

Nossa proposta era usar estradas vicinais, por dois principais motivos: evitar o trânsito intenso de rodovias frequentemente sem acostamento e poder curtir bastante o visual que só é possível nas estradas de terra.







1° dia






Queríamos sair bem cedo no domingo (14/03), mas acabamos saindo sob o sol de meio dia rachando na cabeça para poder garantir mais alguns ajustes nas bikes. O começo foi bem estressante. Em 1 hora da partida, conseguimos pedalar realmente só metade dela. É alforge que sai do lugar, é banco que desce, é ciclo que pifa... quase vimos o Geovane tendo um ataque nervoso e jogando sua bike contra o barranco!

Partimos de Corrêas em direção a Itaipava, passando pela loja de bikes para ver se conseguíamos arrumar o ciclo da Ingrid que parecia não funcionar bem. Lá mesmo decretamos o óbito do coitado. Novamente no pedal, fomos para a Estrada de Secretário. Estrada boa, tranquila, pouco fluxo de carros e quase nada de subidas. Uma breve parada em uma padoca para recarregar as baterias e logo seguimos adiante. Placas indicando para seguir em frente, em direção a Matozinhos e Sertão do Calixto. Terra batida, mas muito cascalho novo e umas subidinhas que não foram nada em comparação às que nos esperavam nos dias seguintes.
O céu anunciava um banho daqueles, quando ouvimos uma explosão. Era o pneu da Ingrid simplesmente explodindo. Será que teríamos a sorte de fugir daquela chuva? Pernas pra que te quero!
Conseguimos chegar a Avelar, distrito de Paty do Alferes às 18:30h e fomos procurar um lugar para ficar. Pergunta daqui, pergunta dali e a única pousada do local estava fechada. Só fomos descobrir isso depois de subir a rua de paralelos empurrando as bikes com nossas últimas forças e um de nós (nem vou dizer quem!) ter que pular a porteira do lugar para conseguir conversar com a caseira. Parece que a sorte havia nos abandonado lá no Sertão do Calixto, junto com o pneu furado e não dava sinais de querer voltar.
Fomos até a igreja tentar um abrigo para montar a barraca, mas o nosso pedalante mais experiente já sabia, pelas suas experiências em viagens anteriores, que não iríamos conseguir nada ali. Mas prefiro não tecer comentários sobre o episódio.
Descemos mais um pouco e, enquanto trocávamos todo o pneu que havia explodido novamente, pensamos em montar acampamento no coreto da praça. A idéia não vingou e seguimos caminho até um clube campestre que haviam nos indicado. Fechado. A noite estava passando e nada de conseguir lugar para dormir, até que voltamos para a civilização e paramos no posto de combustíveis, onde fizemos nosso lanche e tivemos a imensa sorte de encontrar a Marlene, proprietária do local, que gentilmente nos abrigou num cantinho de seu estabelecimento, com direito até a usar o banheiro limpinho. Enquanto conversávamos com ela, a chuva desabou. Foi a nossa salvação depois de um dia cheio de perrengues.











Apagaram-se as luzes e fomos dormir com o barulho do temporal que durou a noite toda.
2° dia
Colocamos as bikes na estrada novamente, bem cedo. Destino: Rio das Flores.  O dia começou com o céu bem fechado, dando a impressão de que  iria desabar a qualquer momento. Conseguimos esticar bem nesse primeiro trecho, pois era só asfalto e quase nenhum trânsito. O perigo todo foi a falta de acostamento e excesso de curvas em declive pela RJ125.  Na estrada logo adiante (BR393), muito trânsito de caminhões e uma estreita ponte de 40m de extensão para botar medo em qualquer um. Não dava sequer para cogitar atravessar se tivesse algum carro passando, quanto mais caminhões. Em frente ao posto de combustíveis, atravessamos para pegar a RJ135. Os primeiros quilômetros de estrada são atormentantes. Pegamos muito barro e muito fluxo de caminhões, pois havia por ali uma construtora trabalhando em uma obra qualquer, talvez de um gasoduto.O pior só estava começando. Subidas sem fim, o sol saindo e mais subidas sem fim. Talvez esse tenha sido o dia de maior sofrimento. Subidas tornam-se torturas quando o dia está ensolarado. Haja protetor solar e água - quem pedala sabe bem disso. 











Finalmente em Rio das Flores, conseguimos um hotel super bacana e com ótimo preço. Quarto de primeira e café da manhã na padaria incluído! A Pousada Lírios do Campo fica bem no centrinho da cidade, na mesma praça onde ficam o cartório, Correios e Polícia Militar. Foi uma noite maravilhosa.

3° dia
Estrada para Barreado: pouco trânsito e muito barro. Em poucos trechos a estrada fica estreita, não tem muitas curvas fechadas e quase nada de subidas. Apesar do volume de chuvas da noite anterior, a estrada continuava boa, apenas com alguns trechos mais úmidos, mas nada que nos fizesse ter que descer da bike e amassar lama com os pés. Barreado fica bem na divisa do Rio com Minas, depois de atravessar uma ponte de ferro imensa e com muita lama. Uma praça, uma igreja, um cartório e só! Seguimos em frente pela Estrada José Moreira Campos (Santa Bárbara do Monte Verde) até encontrar um grupo de cavaleiros que ia de Juiz de Fora (MG) a Nova Iguaçu (RJ), na 3ª Cavalgada de São José. Fomos convidados a “invadir” a fazenda ali perto para tomar um café com queijo. Bate papo animado, mas tínhamos que prosseguir viagem, porque o tempo não estava muito amigo. 
A partir daí as subidas são mais pesadas e longas, coisa para testar a resistência muscular mesmo! Chegando ao centrinho de Santa Bárbara do Monte Verde, se tiver tempo e pernas, continue a viagem. Não existe hospedagem na cidade. Por muita sorte e insistência, conseguimos encontrar a enorme bondade do senhor Duque, exímio contador de causos e fatos verídicos da história política da região e também proprietário do lugar paridisíaco chamado Recanto das Águas, onde passamos a noite chuvosa em segurança. O balneário não tem área de camping por opção do Sr. Duque, mas ele nos ofereceu um cantinho para montar acampamento na área coberta do seu restaurante.







4° dia
Sem dúvidas, o dia de maior expectativa e superação. Deixamos o balneário do Sr Duque antes da 8 da manhã, reabastecemos nossas mochilas com água e fomos com fé. Pedalamos algumas horas pela terra, com subidas e descidas bem dosadas para quem já estava com as baterias fracas pelos 3 dias anteriores. Até chegar no asfalto foi relativamente tranqüilo. Saímos no trevo bem em frente a um lugarejo chamado Orvalho, onde paramos numa venda que tinha de um-tudo! Sabe aquelas antigas do tempo da sua bisavó, onde vendia desde cachaça, alimentos e ferramentas? É bem assim, dos tempos do guaraná de rolha! Nessa rodovia, à direita íamos sentido Juiz de Fora e esquerda, nosso objetivo, Lima Duarte. Estrada excelente, toda com acostamento.  Pegamos a terceira entrada de Lima Duarte, que dá direto no Centro de Informações Turísticas. Pedimos informações à atendente para nos indicar onde almoçar e ela prontamente fez algumas ligações e gentimente guardou nossas bikes num quartinho do Centro de Informações. Caminhamos alguns metros adiante à procura de Dona Leninha, a cozinheira que estaria nos esperando. Grande surpresa quando entramos portão adentro e não havia um restaurante... Dona Leninha serve refeições na mesa bem no centro de sua cozinha, com o auxílio de uma moça e conta muitos causos enquanto nos fartamos com sua comida de avó. Não duvide quando ouvir falar da receptividade nata dos mineiros!
De volta à estrada, agora para encarar a pior parte: as subidas para Conceição do Ibitipoca! Boa parte do caminho já está calçado, mas ainda apresenta algumas partes com cascalho solto. Não conseguimos definir se isso é bom ou ruim, pois, se por um lado o calçamento ajuda nas subidas, por outro ele faz o rendimento cair muito. Nas descidas e nas retas ele “prende” a bike. Já passava das 4pm e a exaustão tomava conta de todos nós. Teríamos aceitado a carona que o motorista do ônibus nos ofereceu, ou mesmo do caminhão que passou, até do turista que queria nos ajudar em uma das subidas super íngremes, não fosse a duríssima perseverança do nosso mestre Geovane em querer concluir a viagem por esforço próprio. A essa altura ninguém coordenava mais braços e pernas, nem tinha energético que resolvesse. Por fim, conseguimos chegar ao nosso destino mais de 3 horas depois da parada do almoço. Nossa escolha foi a Repousada Chalés. Ficamos em um dos chalés mais baixos, convenientemente escolhido devido ao nosso estado de exaustão, mas não perdemos em nada no que se refere à vista da janela. Maravilhoso, dá para ver boa parte da cidade! Comida excelente, o café da manhã então, nem se fala – quanta fartura! Dormimos com o calor da lareira, depois de um merecido banho quente com água mineral.